Aceitar presente

24 de dez. de 2008

Papai Noel: reinventado pela Coca-Cola contra a Grande Depressão

Muita gente sofre com a a síndrome do final do ano no mundo urbano ocidental, onde vigora este costume bárbaro do Natal capitalista moderno.

É o auge da hipocrisia maior da religiosidade, misturada com os mais mesquinhos interesses de venda do comércio. Seu nome Natal. Seu símbolo: Papai Noel.

O que se esconde por trás desta estória de Natal, comemoração materialista baseada na compra e troca de presentes? Qual o papel disso na economia? E a função, digamos, social, de reunir familias, etc? Isso melhora a sociedade? Por que ninguem vê os efeitos deste ritual de natal nos dias e meses seguintes?

Pensar nos mendigos, no povo da rua sem nada, nos sem-terra acampados nas beiras de estradas, nos bilhões de pessoas na miséria no mundo todo - isso não vem ao caso na hora das mesas fartas do Natal, onde um monte de animais se juntariam para comer os cadáveres de outros animais, como dizem os vegetarianos mais radicais.

A culpa é compensada pelas rezas, cultos e missas, onde simbolicamente cada um se projeta no expiador dos pecados do mundo que seria a figura mítica central da tradição judaico-cristã.

E do Natal sai cada qual aliviado, pronto para recomeçar a vida sem sentido em janeiro do ano seguinte, após outra sessão etílica-glutônica no reveillon.

Dessa vez achei um texto que vem a calhar para esta malade du Noel, este mal-estar do Natal, esta sensação ruim que as pessoas sentem e por isso ficam torcendo para chegar janeiro, com ressaca.

O texto centraliza a culpa no simbolo do natal consumista dos tempos atuais - esta ridicula figura do Papai Noel.

Desde as origens o tal santo Nicolau é a própria associação personificada entre o cristianismo dos primeiros tempos e as coisas materiais, as riquezas, os presentes que dava a outras pessoas - nada a ver com virtudes, apenas com bens materiais, riqueza etc. Sabe-se lá como o cara acumulara.

De santo que sobreviveu à reforma protestante, Papai Noel chegou a garoto-propaganda do capitalismo americano antes da II Guerra Mundial, pintado de vermelho durante uma campanha da Coca-Cola em Nova York, para enfrentar em 1931 a grande depressão iniciada com a quebra da bolsa em 1929.

Como estamos iniciando uma nova Grande Depressão, neste natal podemos aproveitar para nos informar sobre o velhinho capitalista. Para isso, nada melhor na internet do que o artigo de Leandro Cruz:

Desmascarando Papai Noel: o santo que virou velho safado

“Quando chega o fim de ano, as ruas são invadidas por figuras bizarras, os papais-noéis. Alguns com barbas de algodão, outros bem magrinhos (estão perdoados, pois ninguém usa uma roupa daquela no verão brasileiro sem perder uns 30 quilos só na transpiração).
Quando as crianças ficam mais espertas, geralmente começam a se perguntar: “Como ele dá conta de entregar presentes para todas as crianças boazinhas do mundo numa única noite?”.
Quando eu estou bem-humorado e não quero revelar que foram os chineses semi-escravos que fabricaram o videogame que o PAI DELAS comprou e deu, geralmente eu respondo. “O Natal é comemorado só em países cristãos. Papai Noel não tem que se preocupar com crianças judias ou muçulmanas ou hindus. Além disso, as crianças boazinhas são muito poucas no mundo cristão. Além do mais, tem a questão do fuso-horário e as renas comem uma ração aditivada desenvolvida pela equipe Ferrari, que as deixa supervelozes. Dá tempo de sobra!”. Mas isso é só quando eu estou bem-humorado…
Mas ando de saco cheio de Papai Noel. Velho batuta que presenteia os ricos e esquece dos pobres. Então vou quebrar os mitos e contar a verdadeira história dessa figura.
Bem, o velho barrigudo e barbudo que inspirou o personagem Papai Noel não morava no Pólo Norte, e sim na cidade de Mira (atual Turquia). Nicolau foi bispo dessa cidade e viveu entre os anos 270 e 350 d.C. Filho de pais muito, muito ricos (tipo assim: se ele fosse criança hoje, os pais dele poderiam dar um Playstation 3 pra ele), gastou TODA a sua herança com obras de caridade, como comprando escravos para os libertar.
Conta-se que uma vez um vizinho estava passando por sérias dificuldades financeiras, com fome e quase sendo escravizado por dívidas. Em seu desespero, esse seu vizinho tinha convencido suas filhas a se prostituírem para sobreviverem.
Nicolau, então, pegou o que sobrara de sua riqueza, pegou três sacos e encheu de moedas de ouro. Na noite de Natal, jogou pela chaminé os saquinhos que salvaram a família, garantindo que as moças mantivessem sua dignidade e ainda tivessem grana para dote de casamento.
Uma vez Nicolau foi preso por causa da perseguição que havia na época contra os cristãos durante o governo do imperador romano Deocleciano. Foi libertado por Constantino, que tirou o cristianismo da ilegalidade. Quando morreu foi sepultado em Mira, a cidade que amava seu bispo. Durante a invasão turca, para impedir a profanação de sua tumba, seus restos mortais foram transferidos para a cidade de Bari, na Itália, daí sua popularidade naquele país (que se espalharia pelo mundo).
Depois do século XVI, nos países em que as reformas protestantes tiveram maior impacto, as homenagens aos santos cristãos foram proibidas, mas Nicolau era tão popular que mesmo assim continuou querido até na Holanda.
A bondade de Nicolau ficou associada ao hábito de dar presentes no fim de ano; até hoje em alguns países as pessoas são presenteadas no dia do santo (6/12) em vez de no Natal. Sua história foi tão difundida que em cada lugar ganhava um colorido diferente e o acréscimo de lendas locais. Foi retratado como um elfo, como um anão, como um velho com um burrico e um saco cheio de presentes nas costas.
Sua história se fundiu com uma lenda escandinava sobre um feiticeiro que andava num trenó, castigava os meninos maus e premiava os bons. Em 1822, o poeta Clement C. Moore, em seu conto “A visit from St. Nicholas” (Uma visita de São Nicolau), consolidou o amálgama entre lenda e história mostrando o bom velhinho num trenó voador puxado por oito renas mágicas.
Muito se discute (e às vezes se briga) pela origem do Papai Noel, mas na verdade ele tem várias origens, versões e adaptações. Ele tem vários nomes ao redor do mundo: Pai Frio, Pai Natal (Noel é Natal em Francês), e em outros continua sendo chamado de São Nicolau. Para nós a versão mais difundida é a estadunidense, que chegou lá com os imigrantes holandeses. A cor dos trajes sempre variou muito: preto, azul e verde eram as mais usadas nas ilustrações. Mas em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola vestiu o bom velhinho de vermelho e branco (cores da marca de refrigerantes) e ajudou a difundir a roupa dessa cor.
Lamentavelmente, em vez de sua imagem fazer as pessoas quererem se doar e ajudar o próximo (como fazia o Nicolau original), essa versão americana só faz as pessoas desejarem ter mais e mais, pedir presentes e vender, vender, vender. Em vez de bondade, Noel hoje significa egoísmo.
Esse Natal é uma ótima oportunidade para mudar isso: conte para seu filho a verdadeira história de Nicolau, revele que quem dá os presentes dele é você, papai, que o ama mesmo quando ele não é um garoto tão bom assim. Conte que existe gente que não ganha presente não porque é mau, mas sim porque seus pais não têm dinheiro, ou porque esses meninos nem ao menos têm pai, e que nenhum papai do Pólo Norte vai vir visitá-los. Talvez assim você convença seu filho a ser mais parecido com Nicolau e a doar aos mais pobres alguns brinquedos velhos. Isso tem muito mais a ver com espírito natalino do que aquele velho safado dos shoppings.“


por João Arnolfo

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